terça-feira, 6 de maio de 2008

MOINHOS E AZENHAS DE Esposende

A CASA ou o PRAZO DO REGO

Por, Artur L. Costa

A inventariação dos engenhos de moer grão, movidos a água ou por sistema eólico no Concelho de Esposende, em especial na sede, situados em terrenos da Casa ou Prazo do Rego, a nascente da Igreja Matriz e a Fonte, foi património do Eng.º Custódio José Vilas Boas.

A inventariação dos engenhos de moer o pão, pisar o linho, através da força da água ou dos ventos, foi um trabalho exaustivo e de busca meticulosa através dos tempos e dispersos pelo concelho; forneceu por isso um curioso resultado: 33 moinhos de vento e 16 de água, datados de entre o século XVIII a XIX, assinalados em cartas militares consultadas.

Os elementos ora divulgados, vieram a ser encontrados em “carta manuscrita e desenhada sobre tela do século XIX que assinala, com precisão e por cada uma das freguesias de Esposende”, a localização destes pitorescos engenhos que foram, em seu tempo, autênticas fábricas de moer o grão, base do sustento da nossa gente.

Embora o trabalho, com mérito e de muito interesse para a história do concelho de Esposende, demonstre a actividade rural e o seu contributo para a economia local, “na sede do concelho não se encontrou referência algum sobre os moinhos ou de azenhas…”, disse o Dr. José Costa, autor da inventariação. Contudo, sabemos da existência da azenha movida a água, de João da Obra (João Gonçalves da Silva, oriundo de Alvelos, Barcelos), alimentada pela levada da Gatanheira, situada em terrenos que foram da Casa do Rego ou Prazo e propriedade do Eng.º José Custódio de Vilas Boas, depois transmitidas para um cunhado, o Cónego José Valério Veloso.

Outro engenho, segundo a inventariação de que mais velhos se recordam, um modelo de moinho de vento que figurou no hotel Suave Mar, montado na cúpula do Forno da Cal, aí existente, depois de adaptado para base da sua localização. Não passou de efémero objecto de interesse e de promoção turística e que sucessivas obras de ampliação desta unidade hoteleira fez desaparecer para local desconhecido.

Será de recordar que a propriedade Prazo do Rego, mais tarde conhecido por “Campo do Rego” situada a nascente da Fonte de junto à Matriz, tem a sua história e o seu desaparecimento, depois das invasões francesas entre 1806 a 1809, em resultado das quais, foi assassinado o Engº José Custódio Vilas Boas, de que resultou a interrupção da construção do porto de mar de Esposende e a consequente canalização do rio Cávado. Entretanto, a propriedade foi arrasada, (depois incendiada pela população, sob a suspeita de colaborar com as forças invasores, os jacobinos, perdendo-se todos os haveres do proprietário. Aquela área de terreno de cultivo, entretanto, entrou na posse da Casa de Bragança, foi posteriormente vendido aos actuais proprietários, entre eles: Álvaro de Barros Ferreira e os herdeiros de João da Obra, além do Quartel dos Bombeiros Voluntários, entre outras construções de habitação e lojas.

Ali se realizaram desfolhadas, em que os mais jovens, com tocatas da época, em especial, guitarras, violam, cavaquinhos, bandolim, ferrinhos e os tradicionais bombos, muito em voga nas festas e romarias. O mote, em regra, era apanhar a espiga vermelha que dava direito a uma rodada de beijos nas moças ali presentes. Também a merenda oferecida pelo dono da desfolhada, que eram um manjar de apetecer: sardinha assada, boas fêveras, broa acabada de cozer, além do verde tinto, sempre do melhor.

Esta a parte rural da Vila de Esposende, mesmo próximo do centro histórico, na eira de Joaquim da Obra.

Artur L. Costa

NOTA: sobre o tema, Casa do Rego e o Eng.º Custódio José Vilas Boas, foi publicado um livro da autoria do Dr. Bernardino Amândio.

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