terça-feira, 6 de maio de 2008

LAMPREIA DO CÁVADO – PETISCO DA GASTRONOMIA MINHOTA Por : Artur L. Costa

LAMPREIA DO CÁVADO – PETISCO DA GASTRONOMIA MINHOTA

Por : Artur L. Costa

Há muita gente que desconhece como é que lhe aparece no prato o melhor petisco da beira -mar: a lampreia, um ciclóstomo, “é o mais primitivo e rudimentar habitante da fauna fluvial” e que os sábios não enxergam, ao certo, da sua proveniência.

Este e outros pormenores foram discutidos em palestras integradas na “Artes de Espera”, exposição organizada no Museu Municipal entre 23 Março e 15 de Abril de 2001. Mas, a vedeta da exposição foi, sem dúvida, a foto que documenta este texto.

Sobre o tema, muito haveria de contar pois, na campanha de Mestre Vilela, na noite em Fevereiro de \1972, a que tivemos oportunidade de assistir, muito foi visto e comentado, a fim de desvendarmos, de facto, como aparece tão guloso manjar à mesa de cada apreciador. Resumindo: a estacada que se observa junto à ponte de Fão, a partir de Dezembro e até 31 de Maio de cada ano, é constituída por 600 estacas bem batidas e afixadas no leito do rio, para segurar uma rede ou tresmalho que fecha o curso do rio. Esta simples armação tem forma angular, cujo vértice ou “fojo”, onde se pendura o lampião (a coto de vela) fica voltado para montante, e aguentar bem a força das enxurradas ou as maresias. Fechado o curso do rio, será difícil a fuga de qualquer exemplar que apareça a embater na rede, em regra, que se desloca rio acima, no sentido inverso da foz, isto é, no decorrer da baixa-mar

A função do “artilheiro”, confiado ao Zé d’ Amélia, é manobrar o galheiro ou o bicheiro de forma a “caçar” o exemplar embatido na rede. Assim foi: ao primeiro exemplar, já madrugada, lançado o bicheiro, sem falhas na pontaria, o “bicho” lá ficou a estrebuchar no fundo a embarcação. Nestes casos, os pescadores são muito crentes e respeitosos, saudaram o acontecimento”:”Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. Outros se seguiram a ritmo acelerado e só terminou com “a ponta d água”, isto é, quando se inicia novo fluxo de marés.

De manhã, ao romper da aurora, a embarcação levou a safra da noite até à margem, onde esperavam, ansiosas, as vendedeiras, já cheias de pedidos para vários destinos a partir de Fão. A contabilidade era fácil de se fazer: apenas 41 exemplares, arrematados às revendedeiras, por 70 escudos cada exemplar.

A concluir, esclarece-se, há várias outras formas de apanhar a lampreia, seja ela onde, for. Contudo, no rio Cávado, além da estacada há as seguintes: no cimo do paredão, com galhetas, bicheiros, fisgas; ou tresmalho a varrer o rio; outros usos e costumes, em especial, as pesqueiras do rio Minho e adjacentes. Para ser cozinhada, recomenda-se: com arroz, à bordalesa; quando tratada, pode ser utilizada em “cozido à portuguesa”, “empadão”, entre vários outros de acordo com a imaginação do “artista”.

A manter-se a erosão da restinga, como é evidente, poderá influenciar as entradas da lampreia, muito embora se julgue que a água quente e doce do rio consiga atraí-las, sobretudo, para a desova. As regras de antigamente, nem vale a pena recordar, porque foram totalmente remodeladas.

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