terça-feira, 6 de maio de 2008

Da história Trágico-martima de Esposende

Da história Trágico-martima de Esposende

NAUFRÁGIO DE 18 DE Outubro de 1888: Morte de 24 tripulantes pescadores de Esposende

De, Álvaro Pinheiro, o “João do Minho”

Tarde mui serena. Os confins do Poente

Ofuscam uma luz, uma fornalha ardente.

E o sol, num baço foco d centelha,

Vai dando às águas uma cor vermelha.

Está sereno o mar. O espaço reverbera

Em breve, surgir medonha atmosfera.

Grossas nuvens, nuvens d’ água e ventanias

Cingem o dorso escuro , e fugidias,

Vão-se aglomerando em forma hórrida

Como alta e escarpada serra erguida.

O Mar ulula: e sinais de gran procela

Vão cobrindo a tez à lua pálida

Coberta por um véu de cor esquálida.

Ao longe zurze a onda rancorosa…

Que faz prever uma noite tenebrosa:

O trovão surdino estruge no ocidente.

As águas vão tomando fúria ingente.

E os leões do mar, os pescadores,

que conquistam os mares de fronte erguida,

a quem o peito se trespassou de dores

vendo morrer as forças, exaurir a vida,

levantam coro e oram ao Altíssimo,

para que os livre das garras do oceano,

desse monstro, desse antro de leão harcano

do abismo de Neptuno fecundíssimo.

Mas… o sol deixou há muito de brilhar.

Agora só se ouve o vagalhão do mar!

Surge o tufão quase inesperadamente

Que horroriza o coração d’ daquela gente.

E em redemoinho o férvido escarcéu

Os pescadores depressa surpreendeu…

Enfurece as águas Neptuninas

Como o rancor de feras viperinas…

E o batel em breve tempo mergulhou…

Naquele abismo, já tudo se afundou!

E d’ este grande naufrágio

De muitos espinhos, horrores, entre martírios e dores,

Apenas um sobreviveu:

Dos vinte e cinco infelizes,

D’ entre destroços, escarcéus,

Salvou-se um só: santo Deus !

À morte um só fugiu, venceu !...

E então, depois de consumado o drama,

Que horrível noite… Que triste panorama!...

Mas a caridade, o popular arcanjo

Desdobra o seu manto. E o santo anjo,

Socorre a viuvez e a Orfandade !...

Seja bendito o anjo da Caridade !...

Salvé ! Salvé ! Protector da Humanidade.

Recitado por Piedade Enes da Silva, na revista dedicada e de apoio a obras da Igreja Matriz, Esposende. Recolha de Artur L. Costa

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