Da história Trágico-martima de Esposende
NAUFRÁGIO DE 18 DE Outubro de 1888: Morte de 24 tripulantes pescadores de Esposende
De, Álvaro Pinheiro, o “João do Minho”
Tarde mui serena. Os confins do Poente
Ofuscam uma luz, uma fornalha ardente.
E o sol, num baço foco d centelha,
Vai dando às águas uma cor vermelha.
Está sereno o mar. O espaço reverbera
Em breve, surgir medonha atmosfera.
Grossas nuvens, nuvens d’ água e ventanias
Cingem o dorso escuro , e fugidias,
Vão-se aglomerando em forma hórrida
Como alta e escarpada serra erguida.
O Mar ulula: e sinais de gran procela
Vão cobrindo a tez à lua pálida
Coberta por um véu de cor esquálida.
Ao longe zurze a onda rancorosa…
Que faz prever uma noite tenebrosa:
O trovão surdino estruge no ocidente.
As águas vão tomando fúria ingente.
E os leões do mar, os pescadores,
que conquistam os mares de fronte erguida,
a quem o peito se trespassou de dores
vendo morrer as forças, exaurir a vida,
levantam coro e oram ao Altíssimo,
para que os livre das garras do oceano,
desse monstro, desse antro de leão harcano
do abismo de Neptuno fecundíssimo.
Mas… o sol deixou há muito de brilhar.
Agora só se ouve o vagalhão do mar!
Surge o tufão quase inesperadamente
Que horroriza o coração d’ daquela gente.
E em redemoinho o férvido escarcéu
Os pescadores depressa surpreendeu…
Enfurece as águas Neptuninas
Como o rancor de feras viperinas…
E o batel em breve tempo mergulhou…
Naquele abismo, já tudo se afundou!
E d’ este grande naufrágio
De muitos espinhos, horrores, entre martírios e dores,
Apenas um sobreviveu:
Dos vinte e cinco infelizes,
D’ entre destroços, escarcéus,
Salvou-se um só: santo Deus !
À morte um só fugiu, venceu !...
E então, depois de consumado o drama,
Que horrível noite… Que triste panorama!...
Mas a caridade, o popular arcanjo
Desdobra o seu manto. E o santo anjo,
Socorre a viuvez e a Orfandade !...
Seja bendito o anjo da Caridade !...
Salvé ! Salvé ! Protector da Humanidade.
Recitado por Piedade Enes da Silva, na revista dedicada e de apoio a obras da Igreja Matriz, Esposende. Recolha de Artur L. Costa
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