terça-feira, 8 de julho de 2008

FESTAS DEDICADAS À SENHORA DA SAÚDE – FESTAS DA CIDADE EM ESPOSENDE
No aviso inserto no boletim de informação paroquial, de 06 a 13 de Julho de 2008, com surpresa nossa, diz o seguinte:
“Embora com algum atraso e com o programa por definir, a Comissão de Festas da Senhora da Saúde vai começar a fazer o peditório esta semana (em curso – o6 a 13 de Julho). Pede-se a compreensão e a colaboração de todos, se queremos a festa. Caso contrário, de futuro, não a faremos.”
Ora, a situação não é de novidade. Outras vezes sucedeu e nem por isso a devoção à Senhora da Saúde deixou de ter as atenções das gentes de Esposende.
Conhecemos bem a história das festas, já centenárias e nem por isso deixamos de as ter. A história que, em tempos fizemos exaustiva pesquisa, trouxe algumas novidades. Por isso, vamos lançar esta curta história, para que sirva de exemplo a quem pense que Esposende já se esqueceu.
FESTAS DA SENHORA DA SAÚDE E SOLEDADE: ROMARIA OU ACONTECIMENTO LOCAL!
Vai para quatro anos que se coligiram apontamentos e notícias dispersas sobre as festas a N. Srª da Saúde e Soledade, imagens que se veneram na Capela situada no limite nascente da cidade com o lugar de Góios, Marinhas.
Estamos perante um fenómeno religioso que o lado profano se aproveita para divulgar Esposende? Será, também, o lado comercial para se promover Esposende e o seu concelho, de parceria com o Turismo? Estamos a valorizar a faixa litoral do Distrito de Braga?.
As festas na cultura e na história

Manuel de Boaventura, o escritor regionalista que nos deixou trechos de bom recorte literário, etnográfico e de história, enquanto detido como “conspirador e reaccionário”, entregue ao poder militar viu as festas à Senhora da Saúde de modo carinhoso e enternecedor. E disse, então:
“O dia 16 de Agosto de 1912 foi uma sexta-feira – dia magro, dia fatídico”.
Não esquecerei nunca esta data. Ela marca na minha vida íntima um sulco profundo, uma nova etapa”.
“Nas vésperas, 14 e 15, realizaram-se em Esposende e Marinhas as festas da Saúde – dois arraiais de retumbância que chamam à foz do Cávado alguns milhares de forasteiros”.
“A Saúde é uma festa muito pitoresca como afinal todas as romarias do Minho. Nas Marinhas, o terreiro, ensombreiado pelas australias e acariciado pelo canto monótono duma fonte de boa água, tem a vizinhança amiga de copas e bouças de pinheiros. Rodeiam-no campos de cultura, quintais cuidados, onde os lateiros e os plátanos verde louros. Formam caramanchéis impenetráveis ao sol ardente do estio; casas brancas destacadas com verdura dos milheirais e moinhos de vento, de asa aberta sempre a correr. Depois o quadro é emoldurado dum lado pela montanha do Faro, com o poético penhasco de S. Lourenço a cavaleiro e a pequena capela – guia branca há séculos no alcondorado montilhão – servindo de remate, de guia, de fanal”.
“E sobre a festa na sede do concelho, diz Manuel de Boaventura: Em Esposende os festejos têm outro aspecto. São mais urbanos, mais brilhantes. Não os caracteriza o bucolismo das Marinhas; mas em compensação tem iluminações deslumbrantes, vistoso fogo de artifício, serenatas e regatas no Cávado”.
“Coisas caras!”
Este ano as decorações eram dum bom gosto notável. Toda a avenida fronteira e a rua que lhe serve de prolongamento estavam engalanadas com desusado luxo. Havia arcarias bizantinas pintadas sobre forro de pinho; bandeiras nacionais e galhardetes drapejando em mastros esguios pintados a oca; e festões de flores pendendo das hastes das flâmulas”.
“ Depois de tudo isto estava pejada de copinhos, de balões multicolores, de tigelinhas formando um túnel luminoso que de noite produzia um efeito magnificente, cheio de feérismo e magia.”
“ No passeio central formigava a multidão, onde senhoras de toilletes vistosas, punham uma nota fina de distinção.
“Ora, nesse dia 14 de Agosto, fui a Esposende ver a regata. Achei interessante. O clube Fluvial Esposendense desafiava o seu congénere de Viana. Houve também uma corrida de profissionais entre marinheiros da armada e marítimos.
“Muita dessa gente assistiu a esse certame, em verdade digno de ver-se. Findo ele, o povo, com a música à frente, encaminhou-se para o terreiro”.
“Tardejava. O sol decaía no poente, em fogacho, Uma leve nortada tremia na folhagem e nos balões das faias e das australias; nas bandeiras e nos balões venezianos”.
“Durante uma hora deliciei-me com a audição de boas peças de música. Entretanto cavaqueava com amigos. Dizia-lhes das minhas e ouvia as deles”.
“Eram assim as festas da Saúde, de Esposende, no ano de 1912. Por isso, os desafios às sucessivas comissões iam no sentido de mais e melhores, atraentes, capazes de fazerem esquecer as agruras da vida”.
“Um ano após a colocaçõ da imagem de N. Srª da Saúde na multisecular capela de S. Sebastião, a festa tomou outro nome (Senhora da Saúde), assumiu as proporções e as caracaterísticas de grande romaria do Minho e veio a chamar-se Festas da Vila”, assim se inicia a resenha histórica das festas em honra da Senhora da Saúde, publicada hà quatro anos.
Novo ciclo de festas se inicia, depois desta alteração, embora a história seja longa, não fastidiosa; contudo, este texto de Manuel de Boaventura, detido por razões políticas, é um desfiar de saudade e de pura devoção.
Então, as festas têm início em Agosto de 1902, prestes a completar os cem anos de existência. Aliás, o primeiro programa anunciador do acontecimento, dizia: “Esposende, a formosa rainha do Cávado prepara-se para esta festividade não deixe a desejar aos inúmeros forasteiros que, concerteza, acorrerão a ela, a gozar os festejos preparados”. Aliás, neste mesmo ano, dado o relevo das festas e do respeito pelas regras a que obedeciam, mereceu um tratamento preferencial e daí ter sido “concedida licença de dipensa de abstinência de carne para os dias 14 e 15 de Agosto, para todas as pessoas que a esta vila concorram”.
As festas, com o correr dos tempos melhorou substancialmente e passaram a designar-se Festas da Vila.
Outro dos acontecimento, era o mastro anunciador das Festas, que se erguia á entrada do recinto, o Souto da Senhora da Saúde, uma festa em preparação de outra maior.
Conta-se que, em 1955, quando António Viana Vilas Boas pertenceu à Comissão, valeu a fixação do mastro, sempre difícil de erguer e de o fixar, o guarda fios dos CTT, Manuel Neiva Júnior.
Vale a pena referir o desentendimento entre os membros da Comissão de Festas. É que”o prestígio das Festa aumentara durante muitos anos até que, a partir de 1943, o prestigio diminuiu e deixou de pertencer ao grupo de festividades de interesse, ,perdeu muito do seu valor. Por isso, neste ano, “profundo desentendimento entre o elementos da Comissão suspendeu a festa, limitando-se a pequeno arraial no jardim Dr. Fonseca Lima e às cermónias religiosas, estas organizadas pela Confraria.
Ficou me em memória : em choque com o Lando Barbeiro, desmanchei o joelho direito…

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