sexta-feira, 6 de junho de 2008

Das crónicas, Voz do Além:

“ESPOSENDE… DE RELANCE!” ESTREOU-SE HÁ 53 ANOS

Alguns dos intervenientes na revista de teatro, “Esposende… de relance”, que estreou-se em 24 de Abril de 1955, não resistiram ao tempo e deixaram-nos, para sempre. Ficou pois, a memória desses esposendenses: Armindo Rocha Duarte, que foi oficial dos CTT; Plácido Joaquim Martins, , da Repartição de Finanças, quer em textos quer em letras e músicas populares. Outros falecidos, merecem a sua memória: Prof. Borges de Azevedo, a jovem Maria Jovita Enes, Maj. Albino Pedrosa Viana, Dr. António Carvalhal com o virtuosismo da sua guitarra coimbrã; Mário Caldas Amorim, com a viola, muito clássica; Dr. Alceu Maria Vinha dos Santos, Jacinto Costa, pelas pinturas e arranjos artísticos em cenários; Manuel Silva Pinto, Manuel Lopes Miranda. Do grupo que deu apoio à ideia, há, ainda: José Sousa, da Guarda fiscal, Jaime Tavares, António Duarte, António Gonçalves Lopes, o Retinto; mas dos vivos, será lícito recordar: Henrique Velasco, da Guarda Fiscal; João Ferreira e mulher, entretanto deslocados no Brasil, desconhecendo-se a situação actual; Dr. Orlando Capitão, Manuel Cerqueira Nunes da Silva, o ponto; Artur Lopes da Costa, na guitarra, com o Dr. António Carvalhal e na orquestra de cordas; também, já falecidos: António José Ferreira, Prof. Elias Lopes Cardoso, Américo Magalhães, electricista.

Uns tempos depois, os irmãos Vieira, de Braga, participaram com um moderno sistema de acordeons que foi um sucesso e dispensou a orquestra típica de cordas, bem à moda de Esposende, só nossa e que deixou história, também pela ousadia e pela ingratidão de muita gente pois, dificultaram as actuações, com atitudes impróprias da época.

Já se passaram 53 anos sobre a estreia e os espectáculos que permitiram lotação esgotada, excepto em Fão, porque uma inesperada decisão impediu a orquestra privativa de se exibir em palco, com as músicas criadas para o efeito. De resto, nesta parte, o salão da catequese de Fão, excepto alguns amigos, houve o propósito de boicotar o espectáculo, que resultou.

De salientar, nesta data, a simplicidade dos participantes de Esposende, quando se aplicaram para bem representar Esposende e a sua gente. Todavia, é de salientar, mais uma vez, autores e artistas, colaboradores, firmes como sempre, deram um grande esforço e, assim, contribuíram para o desenvolvimento de Esposende, tal como todo o apoio dado para bem da cultura local. É que, toda a peça, andava à volta da vida e à situação da época; usos e costumes, os problemas, muitos dos quais, com actualidade no período pós revolução do 25 de Abril/74. Mas o maior perigo, nesta data longínqua, era a censura controlada pelo Estado.

Foi dito, em público, com toda a carga psicológica, “no dia 25 de Abril de 1955, o povo desta vila sacudia-se numa alegria invulgar, com a representação duma revista de teatro que ficaria bem gravada na memória de muitos esposendenses”.

Manifestação cultural de muito interesse etnográfico, abordou problemas ainda latentes, transformou Esposende numa grande família. De resto, dizendo-se que a receita era em benefício do Esposende Sport Clube, estava tudo dito, melhor: esclarecido, porque o futebol era a mola real que fazia mexer muita gente.

“Dar um pouco de vida a Esposende que então sofria de um marasmo impressionante…”, disse-nos mais tarde Armindo Duarte, numa das entrevistas publicadas. Mas, de facto, os ensaios que se arrastaram por alguns meses, fez reunir toda gente válida, o bastante para o tal sacudir de que sempre falou o autor e coordenador desta peça. Contudo, acrescentaria:” A ideia surgiu num domingo gordo de Carnaval, repleto de gente nova, já se tinha feito o desfile ou corso . Cenas hilariantes a recordarem outros bons velhos tempos!

Então, continuou Armindo Duarte: “Empurrado por alguns amigos, com destaque para Henrique Velasco, atirei-me com todo o entusiasmo a escrever a revista em questão, sendo os versos de Plácido Martins, versos adaptados a músicas já existentes”, disse-nos Armindo
Duarte. Portanto, o objectivo era, “dar um pouco de vida a Esposende…” e conseguiu…!

O teatro de revista voltou ao palco do Teatro Club, em fase de abandono, depois recuperado para Museu Municipal. E de salientar, com justiça, o sacrifício, a luta, a insistência ao longo dos tempos, o esforço dessa juventude voluntariosa.

Eis, em traços largos, um acontecimento que deu a volta ao meio ambiente de Esposende, muito se conseguiu, entre outros objectivos seriam satisfeitos, porque os anseios de Esposende, nessa época distante, sobretudo quanto a tempos de lazer e de cultura. A revista de teatro, cumpriu o objectivo, embora fossem mais longínquos, permitiu quanto era querida essa Esposende; senão, atentem: abre o pano, uma jovem representava Esposende e um coro de ninfas, cantava: “Bela Esposende, terra formosa qual linda rosa em que rescende o rir alegre das raparigas, cantando sempre lindas cantigas…”

Quem ficaria indiferente a tanta alegria, esforço e apego às nossas coisas? Hoje, Santo Deus, ninguém sabe o que quer, excepção para os politiqueiros…


Artur Costa

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